Julio Lancelotti, o padre mais anarquista do Brasil
Por Caio Castor
Com exceção de alguns perversos de verde e amarelo, muita gente admira o trabalho do Padre Julio Lancellotti. Mas nem todo mundo conhece a fundo o que ele faz. Há 11 anos acompanho o seu trabalho e nesse último mês resolvi fazer um mergulho no cotidiano dele e da Pastoral do Povo da Rua, para entender qual impacto dessas iniciativas e quais caminhos elas podem nos sugerir para enfrentar uma questão tão urgente e complexa, que são as mais de 48 mil pessoas que vivem nas ruas apenas na cidade de São Paulo. No estado são mais de 80 mil e no país, mais de 192 mil pessoas nessa situação – segundo dados mais recentes do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População de Rua.
Crítico das instituições, o padre costuma trazer conceitos do anarquismo e da ação direta para sua atuação política. Imbuído de uma solidariedade radical e um forte senso de compromisso, todo dia pontualmente ás 7 horas da manhã, ele reza a missa e depois sai com seu carrinho de supermercado para distribuir o café da manhã em um centro de convivência administrado pela prefeitura, que fica a alguns quarteirões da Paróquia que ele coordena, no bairro do Belém.
Um pequeno muro de 1 metro de altura e sem grades, separa a rua e a área de convivência da Paróquia São Miguel Arcanjo. Alguns vêm pra sentar no banco, outros pra beber água do bebedouro, outros pra molhar o rosto na torneira. Algumas pessoas vêm só pedir um chinelo. Outras, um absorvente. Algumas pra orar na capela. Outras, pra usar a internet. Algumas vêm por uma cesta básica, pra arrumar uma barraca, documentos, apoio jurídico ou somente pedir uma benção.
A última grande ação do padre resultou em moradia digna, com casas e apartamentos mobiliados e com eletrodomésticos novos, para mais de 60 pessoas que, no sábado do dia 4 de março, deixaram os baixos do Viaduto Pádua Dias, na zona leste de São Paulo. Há 2 anos, desde que foi criado, o projeto de locação social coordenado pelo padre já tirou das ruas mais de 190 pessoas.
“Nós não somos distribuidores de comida.
Nós utilizamos a alimentação, para dizer para o outro: você é importante para mim, eu me importo com você. E através disso, estabelecer vínculos e um relacionamento de confiança, para juntos construirmos possibilidades.” resume o padre.
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Direção, edição e imagens
Caio Castor
Imagens adicionais
Drone: Alexandre Gomes e Flávio Galvão
Marretadas: Henrique Campos
1ª entrevista com o padre: Caio Castor e Pétala Lopes